quarta-feira, 23 de julho de 2008

Phrases

A mania sadia é ter a energia para transformar a paranóia em sublimação.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

TEORIA DOS GOZOS – Capítulo I - Parte I

Oscar Cesarotto

Um é pouco, e três pode ser demais. Dois seria a medida certa, o caminho do meio? A eqüidistância dos extremos, a terceira via transitada e preconizada por Aristóteles, Buda, os beatos e todas as boas consciências, incluindo as nossas vovozinhas e o Dalai Lama? (Versão espanhola: Ni muy muy, ni tán tán...).

Três já são uma multidão, e até alguém poderia sobrar, quando dois não precisam de mais ninguém. E um, sozinho, a solidão. Entre a falta e o excesso, a pedida certa passa no meio. Na balança, pesa exatamente no meio. Na corda bamba, não cai. Entre o céu e a terra, não afunda. Eis o equilíbrio, um prazer sem contra-indicações.

O ponto de vista econômico da metapsicologia freudiana decorre do pensamento dialético alemão, comum a Hegel e a Marx. Também para Freud, a quantidade mudava a qualidade. No aparelho psíquico, o ponto de vista tópico explica a distinção das instâncias, enquanto o ponto de vista dinâmico descreve a forças em conflito, os deslocamentos e as formações de compromisso. Por fim, a economia libidinal, isto é, a cotização do gozo, do desejo e do prazer na Bolsa pulsional.

A oralidade fornece exemplos concretos. Uma amostra grátis no supermercado ou um prato requintado da nouvelle cuisine serão tão bons quanto possam ser, mas sempre exíguos. No segundo caso, o bom é pouco, mas é bom, valorizado pela raridade. No primeiro, o objetivo explícito é seduzir, tentar, dar água na boca, fazer querer mais porque foi bom, porém pouco. Cria-se assim o desejo no outro, pelo oferecimento de uma isca. Esta lógica funciona em qualquer contexto; por exemplo, nos trailers de cinema, ou no strip-tease. (Ou no fantasma consagrado por pais & mestres, o pipoqueiro da porta de escola.).

Lembremos aos usuários do português do Brasil que o verbo comer é equívoco por natureza. Portanto, os raciocínios acima também devem ser aplicados à genitalidade, mas sem deixar de fora as outras fases, e as zonas erógenas atípicas.

Algumas cogitações de bom senso psicanalítico:

- Só se deseja o que não se tem; só se deseja porque não se tem. A falta e a incompletude, por um lado, e o diferente e o novo, por outro, fazem a vida palpitar, avivam a curiosidade e ativam o circuito das pulsões. Os pequenos detalhes, os objetos parciais, nos fazem salivar e babar, dentre outras umidades.

- O que não se tem, e o que não se é, criam tensões que vão aumentando e trazendo desprazer. Quando se atinge um certo patamar, ou há descarga, e alívio imediato, ou a energia pode se voltar contra o sujeito, agora como sofrimento. Contudo, ficar carregado é, ao mesmo tempo, um gozo, adicional, ocasional ou existencial (karma).

- O prazer é, em primeiro lugar, o drible ou a eliminação do desprazer, a sua superação, mesmo que momentânea. Pode ser um equilíbrio instável, mas é sempre agradável. Faz bem, tudo de bom, a vida está cheia de prazeres, e temos órgãos dos sentidos para nos regozijar com eles. Bons momentos são sempre possíveis, por simples que sejam, e as pequenas e grandes curtições do cotidiano tornam os nossos dias vivíveis.

- Quando o prazer é insuficiente, há frustração e desejo insatisfeito. Mas o que acontece quando o prazer e os prazeres levam ao desequilíbrio pelo acúmulo? O que é bom pode ser até melhor, e do que gostamos, sempre queremos mais. Às vezes, é possível, e legal, na polissemia do termo. Mais uma vez, o que fez bem parece de bom tamanho. Porém, e se o tamanho mudasse? Continuaria fazendo bem?

- mais + mais = MUITO. Só se sabe o que excessivo quando já se ultrapassou o sensato. A quantidade mudando a qualidade. Tão bom era, tão bem foi, que por último, fludeu... Um plus, ao longo do tempo, cronifica. O que se acrescenta, acaba sedimentando. Entretanto, alguns limites podem ser previstos, testados, respeitados.

(Continua)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Manifesto Latente da Clínica Psicanalítica

Oscar Cesarotto & Márcio Peter de Souza Leite


O mundo atual não favorece uma existência aprazível para ninguém e, quando se somam os conflitos pessoais, com freqüência a vida cotidiana se transforma num inferno individual. Alguns mal-estares crônicos, cristalizados, adotam diversas formas sintomáticas. Muitas vezes, o método psicanalítico pode ser o mais adequado para o problema.

O tratamento que se espera e se obtém de um psicanalista é uma análise. Trata-se de um procedimento dialógico que opera exclusivamente pela palavra e, ao mesmo tempo, através dela. Tem por finalidade propiciar mudanças subjetivas profundas. A interpretação e a elaboração das causas do sofrimento psíquico, visando suprimir seus efeitos, é a via específica para superar a alienação neurótica.

A experiência analítica começa desde que alguém aceita se colocar em pauta, questionando sua forma de viver, seu passado e seu destino. Para tanto, aquela deveria levá-lo a um novo e diferente modo de ser, sentir e pensar. Junto com isto, fazer com que assuma a responsabilidade pelas próprias atitudes, as conseqüências dos seus atos, e o que a sorte lhe depare.

O analista tem por função catalisar a transferência, graças à sua escuta. O inconsciente, a voz ativa, diz, por meio da associação livre, o que não se sabia que se sabia. Assim, o analisante também tem a oportunidade de se ouvir, para chegar a descobrir o que realmente quer. Só desta forma poderia se reconciliar com seu desejo, depois de perceber até que ponto tudo aquilo que o martirizava não lhe era alheio.

Na época histórica que nos toca viver, o discurso científico e a razão técnica propõem soluções imediatas para quase todas as coisas. No que concerne às dores anímicas de qualquer índole, parece plausível pretender minimizá-las ou anulá-las, sempre que possível. Afinal, a angústia não tem graça nenhuma. Para tanto, a medicina, com seu arsenal de recursos cada vez mais amplo, prescreve remédios mais ou menos eficientes, num curto prazo, para diminuir o desprazer. Entretanto, nem tudo se cura com pílulas ou comprimidos.

Há mais de cem anos que a psicanálise é praticada, e aprimorada na constância do seu exercício. Disseminada em maior ou menor grau na sociedade, ela constitui um meio terapêutico capaz de resultados positivos e duradouros, provavelmente inatingíveis de outras maneiras.

Desde o seu início, foi uma alternativa eficaz perante a impossibilidade médica de resolver todas as penúrias e impasses que atormentam os seres humanos. Como certas perturbações e inibições não fazem parte das doenças tipificadas, isso determina que a psicopatologia tenha de ser definida a partir da singularidade de quem padece. Assim, para erradicá-las, não adiantam receitas magistrais nem substâncias de última geração, depois de tanta pesquisa, agora disponíveis no mercado da saúde. Fica evidente que a farmacologia tem utilidade suficiente como para merecer o devido respeito, mas, infelizmente, inexistem panacéias.

O inconsciente, patrimônio psicanalítico, nada tem a ver com o sistema nervoso central e vice-versa. A sexualidade da nossa espécie, enquanto enigma íntimo, não coincide com os achados da biologia ou da genética. Tampouco a sexologia, caracterizada por um otimismo pragmático, consegue que o desejo, o gozo e o prazer sejam sempre benfazejos. Se as fórmulas de compromisso que cada um arranja ao longo da própria vida fracassam, e quando nem a felicidade nem a tranqüilidade são mais viáveis, talvez seja o momento exato para procurar uma análise.

Nela, o conhecimento de si mesmo será muito mais do que uma aventura do espírito, pois as questões a serem elucidadas não são filosóficas, universais ou abstratas, senão clínicas, pessoais e bem concretas. Antes e em primeiro lugar, o sujeito, com minúcia e precisão, terá a chance de passar sua existência a limpo, como condição necessária para retificar seus sentimentos e pesares. A decorrência desta atitude sistemática o deixará apto para se situar na realidade que lhe concerne, do melhor jeito possível.

Aliviado do peso dos entraves simbólicos, das limitações imaginárias, e isentado dos seus mal-estares, por sua conta e risco correrão seus dias, na procura do bem-estar que lhe é de direito, sem continuar arcando com o dispensável ônus da neurose.

Algumas patologias do cotidiano que podem ser tratadas pela psicanálise:

MEDOS: Angústia, ansiedade, pânico, tensão, pavor e fobias.

TRANSTORNOS DA ALIMENTAÇÃO: Fome exagerada, azia, gastrite, prisão de ventre, perda de apetite e vômitos.

DISTÚRBIOS DO SONO: Insônia, sono alterado, pesadelos, sono excessivo, sonolência diurna e cansaço crônico.

AFECÇÕES ANÍMICAS: Desânimo, incerteza, dúvida constante, rancor, remorsos, culpa, melancolia, tristeza e depressão.

ALTERAÇÕES DO SI MESMO: Descuido, inferioridade, descontentamente, autodepreciação, covardia, anulação subjetiva, inveja, fantasias insuportáveis e dores constantes.

SUPEREU: Desestímulo, dever, auto-exigência, masoquismo moral, ideais impossíveis, sacrifício e pena de si.

ADIÇÕES: Alimentação nociva, TV, drogas lícitas (álcool, fumo e remédios), drogas ilícitas, consumismo, azar, condutas de risco, trabalhismo, superstições e perda de tempo.

TANATOS: Vontade de morrer, perda do sentido, automutilação, somatizações, tentativas de suícidio, esgotamento vital e bolamurchismo existencial.

domingo, 1 de junho de 2008